Um outro olhar sobre o mundo

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terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Kant - ações por dever e conformes ao dever

O que é agir por dever?

Comecemos com um exemplo muito simples:
A mãe da Rita perguntou-lhe onde é que ela foi na sexta-feira à noite. A Rita disse a verdade à mãe, dizendo-lhe que foi jantar à pizzaria Matterelo com alguns colegas, mas fê-lo porque sabia que se mentisse e a mãe descobrisse, a punha de castigo. A Rita cumpriu o dever (não mentir), não por dever (não porque não deve mentir), mas por interesse (porque tem medo do castigo da mãe). A Rita agiu por interesse, mas, por acaso, não desrespeitou as ordens da sua razão, que lhe diz “não deves mentir”. Significa isto que a Rita não obedeceu incondicionalmente às ordens da sua razão. Apenas se a Rita dissesse para consigo mesma “Não menti à minha mãe, porque é meu dever não mentir” (em toda e qualquer circunstância) é que estaria a agir moralmente segundo Kant, porque estaria a respeitar o dever pelo próprio dever.
Para explicitar o que é agir por dever Kant introduz uma distinção famosa: a distinção entre acções feitas por dever e acções conformes ao dever.
As acções feitas por dever são acções em que o cumprimento do dever é um fim em si mesmo (cumprir o dever pelo dever). A vontade que decide agir por dever é a vontade para a qual agir correctamente é o único motivo na base da sua decisão. Dispensa razões suplementares, não age como diz o homem comum «com segundas intenções». A Rita agiria por dever se dissesse a verdade sem qualquer outro motivo que não dizer a verdade.

As acções em conformidade com o dever não são acções contrárias ao dever. Contudo, nessas acções, para cumprir o dever precisamos de razões suplementares. Mais importante do que o cumprimento do dever é o nosso interesse pessoal. A Rita agiria em conformidade com o dever se, embora dizendo a verdade, o fizesse por receio de ter problemas com a mãe. É também o caso de quem paga os impostos e não falsifica a declaração com receio de ter problemas com as autoridades.

Na nossa sociedade há um conjunto de normas morais que nos dizem aquilo que devemos fazer, tais como “Não mentir”, “Não roubar”, “Não matar”, entre outras, normas essas que a maioria das pessoas da sociedade cumpre. Mas por que é que as cumprem? Ou melhor, de que modo as cumprem? Ora, normalmente cumprem-nas (cumprem o dever), não pela obediência a elas mesmas, mas por interesse (o que para Kant não serve). Diz-se então “Não vou mentir”, não porque não devo mentir, mas porque temo as consequências desta minha falta, “Não vou roubar”, não porque não devo roubar, mas porque receio ir parar à prisão. Kant apercebeu-se deste problema na forma como a maioria das pessoas age (agir em conformidade com o dever) e enunciou-o da seguinte maneira: a sociedade apenas me diz o que devo fazer, mas não como o devo fazer, com que intenção devo cumprir o dever.


Tipos de acções segundo Kant
Acções contrárias ao dever
Acções em conformidade com o dever
Acções feitas por dever
Acções que violam o dever
Ex: Matar, roubar, mentir.
Acções que cumprem o dever não porque é correcto fazê-lo mas porque daí resulta um benefício ou a satisfação de um interesse.
Ex: Não roubar por receio de ser castigado.
Acções que cumprem o dever porque é correcto fazê -lo. O cumprimento do dever é o único motivo em que a acção se baseia.
Ex: Não roubar porque esse acto é errado.

*Texto retirado do sítio da Plátano Editora
 

4 comentários:

Anónimo disse...

Parabéns belo comentário.

Anónimo disse...

Ótimo texto! Me ajudou muito. Obrigada.

Anónimo disse...

Excelente! Me ajudou muito! Obrigada

Anónimo disse...

Ótima explicação, me ajudou bastante.