Um outro olhar sobre o mundo
segunda-feira, 18 de novembro de 2013
quarta-feira, 6 de novembro de 2013
terça-feira, 5 de novembro de 2013
quinta-feira, 31 de outubro de 2013
quarta-feira, 2 de outubro de 2013
quarta-feira, 5 de junho de 2013
domingo, 21 de abril de 2013
domingo, 7 de abril de 2013
quinta-feira, 28 de março de 2013
sexta-feira, 22 de março de 2013
quinta-feira, 21 de março de 2013
Dia Mundial da Poesia
Esta Gente/Essa Gente
O que é preciso é gente
gente com dente
gente que tenha dente
que mostre o dente
Gente que não seja decente
nem docente
nem docemente
nem delicodocemente
Gente com mente
com sã mente
que sinta que não mente
que sinta o dente são e a mente
Gente que enterre o dente
que fira de unha e dente
e mostre o dente potente
ao prepotente
O que é preciso é gente
que atire fora com essa gente
Essa gente dominada por essa gente
não sente como a gente
não quer
ser dominada por gente
NENHUMA!
A gente
só é dominada por essa gente
quando não sabe que é gente
Ana Hatherly, in "Um Calculador de
Improbabilidades"
Aluno de 19 anos ganha prémio da Sociedade Portuguesa de Filosofia
José Gusmão Rodrigues, um estudante de 19 anos, venceu o prémio de ensaio filosófico da Sociedade Portuguesa de Filosofia (SPF). O galardão, no valor de 3500 euros, vai ser entregue ao aluno do curso de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa no próximo dia 6 de Setembro de 2013.
O jovem não tenciona ficar em Portugal. "O futuro do país é incerto e, se ficar, não vou conseguir trabalhar na área de que mais gosto", conta José Rodrigues ao P3. Por isso, ter ganho o prémio foi "uma grande ajuda" para concretizar o seu sonho de ir estudar para o estrangeiro. Como destino o estudante aponta Inglaterra ou Estados Unidos, uma vez que a pesquisa em filosofia é mais forte nesses países.
O estudante conquistou o prémio da Sociedade Portuguesa de Filosofia com um ensaio que respondia à seguinte questão filosófica, colocada este ano a concurso pela instiuição: "O relativismo acerca da verdade refuta-se a si mesmo?"
Estudar a filosofia da mente
A filosofia da mente é o tema sobre o qual José Rodrigues pretende se debruçar no futuro. De acordo com o próprio, “é uma área muito interessante porque está em contacto com a ciência cognitiva e ajuda-nos a perceber como nos entendemos uns aos outros”.
Quando tinha 13 anos, José percebeu que a filosofia era a disciplina a que queria se dedicar — e essa descoberta aconteceu por acaso. “Estava na internet e encontrei umas obras. Uma delas chamava-se “Programas da Filosofia” que, não sei o porquê, despertou a minha atenção”, afirma.
Seguidor de Colin Mcginn, filósofo contemporâneo, José é um “viciado” em séries televisivas, gosta de rock e tem um gosto particular pela literatura de ficção científica. “Há muitas pessoas que gostam de música, de futebol, de dança... eu gosto de filosofia. É uma paixão possível no meio de tantas outras”, explica.
Esta não é a primeira vez que José Rodrigues é distinguido com um prémio. Em 2011, ganhou a medalha de prata nas Olimpíadas Internacionais de Filosofia, realizadas em Viena.
(daqui)
quarta-feira, 20 de março de 2013
sábado, 16 de março de 2013
sexta-feira, 15 de março de 2013
quarta-feira, 13 de março de 2013
quarta-feira, 6 de março de 2013
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013
terça-feira, 19 de fevereiro de 2013
domingo, 17 de fevereiro de 2013
sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013
quinta-feira, 24 de janeiro de 2013
Sempre é tarde
Por ter crescido com as telenovelas brasileiras, não
consegui ainda entranhar as suas congéneres nacionais. Confesso que as minhas tentativas
têm sido pouco mais que nulas, não suporto o amadorismo e cabotinismo de alguns
intervenientes, mas sobretudo a falta daquela luminosidade encantatória que as
nossas não têm. Diz um amigo mais entendido que à imagem lhe colocam os
portugueses um “filtro de saída”, dando-lhe aquele ar baço ou insosso. O motivo
cai no segredo dos deuses e a culpa bem pode ser minha. Bem sei que as
telenovelas não são todas iguais e a generalização precipitada é algo de que
devemos sempre acautelar-nos. De resto, faz tempo que não vejo telenovelas, de
umas e de outras.
Mas vem isto a propósito de Gabriela, não a original dos anos
setenta com a imor(t)al Sónia Braga, de que retenho apenas breves mas
agradáveis flashes, provavelmente construções minhas, mas o remake de 2012 com a mais robusta (ou
grosseira) Juliana Paes. Vem isto a propósito do último episódio desta nova Gabriela e de como há frases ou
instantes que nos apanham desprevenidos, se arrastam em nós e teimam em não nos
largar. Como que nos suspendem o real imediato, mas numa suspensão reflexiva, e
não pasmada, que pode brotar do mais corriqueiro ao nosso redor. Não que algo
com origem num texto de Jorge Amado possa ser corriqueiro, longe disso.
No último episódio de Gabriela,
mesmo no final, encontramos o Coronel Ramiro Bastos (António Fagundes) sentado
na praça central de Ilhéus, uma daquelas pequenas cidades brasileiras de
fantasia que acreditamos reais, à espera que, a mando seu, seja assassinado o
Doutor Mundinho Falcão, rival político e desencaminhador de netas prendadas.
Apanha sol na praça, como de costume, mas desta vez para não levantar
suspeitas, em jeito de álibi. A tocaia
está montada e Ramiro, Coronel autoproclamado, está feliz, as coisas começam a
endireitar-se, ou começarão, mal o desafiador seja eliminado e tudo volte ao
“como era antes”, à ordem normal das coisas. Está feliz e fala sozinho, dessas
coisas que só nas novelas é possível sem passar por idiota, na verdade fala
para nós, explicitando-nos um estado de espírito que nós já adivinhamos, que já
sabemos. Depois de décadas como senhor absoluto do destino de um povo,
prepara-se para ganhar as suas últimas eleições e partir para uma justa reforma
junto da “sua” Maria Machadão, puta de sempre e amante sempre adiada.
Agora é o momento.
“Demorei para decidir, mas nunca é
tarde”, diz, “nunca é tarde”!
Depois, uma dor súbita no lado do
coração, um esgar no rosto, uma impressão no braço esquerdo, resiste, tenta
sobrepor-lhe a felicidade, aguenta, não consegue, ele sabe, o mundo cai-lhe à
volta, fica difuso o que há pouco era claro e brilhava, é o futuro que lhe
escapa naquele banco ao sol…
O “nunca é tarde” de ainda agora
transfigurado em “sempre é tarde”.
“Sempre é tarde!”, diz…
Escapa-se-lhe.
O passado a tombar o futuro, o que
não foi a comer o que será e um último pensamento para a neta.
Ramiro morre.
E morre sabendo que foi débil. Débil
na vontade de inaugurar uma outra pessoa que poderia ter sido. Qualquer momento
é tão bom como qualquer outro para começar. Qualquer dia. Hoje não, amanhã, ou
depois, só mais isto, não posso deixar de… Como a linha do horizonte que se
afasta à medida que nos aproximamos. Continuamos a deixar passar o momento.
Qualquer dia. Amanhã é também um bom dia para continuar a adiar.
Indefinidamente, sem repararmos que o passado morde cada vez mais forte, até ao
dia em que nos apanha, num banco de jardim ao sol, num café a passar os olhos
pelas notícias do dia, na cama enquanto fazemos planos para aquela viagem,
aquele amor, o futuro, hoje como antes, muito antes,
quando o futuro era só possibilidade, sem por um instante pensar que é um
futuro que não virá mais.
Como Ramiro.
(ver aqui em baixo a cena de que se fala)
http://globotv.globo.com/rede-globo/gabriela/v/coronel-ramiro-bastos-morre/2211055/
quinta-feira, 17 de janeiro de 2013
Nagisa Ôshima (1932–2013)
O realizador japonês Nagisa Oshima
morreu na passada terça-feira, um dos nomes-chave da “nova vaga” japonesa
conhecida como nuberu bagu, iniciada em finais dos anos 1950. Depois da sua estreia na longa-metragem em
1959 com Ai To Kibo No Machi, Oshima torna-se daí em diante num dos mais
prolíferos cineastas de uma década fértil em convulsões na arte e na sociedade
nipónica. Filmes como O Enforcamento, Noite e Nevoeiro no Japão ou Cerimónia
Solene são ferozes investidas contra uma sociedade burguesa, armadas de sexo e
política. Conhecido em Portugal principalmente pela polémica que suscitou a
transmissão televisiva de O Império dos Sentidos (1976), no início da década de
noventa, Oshima tem muitos outros motivos de interesse, como este Feliz Natal
Mr. Lawrence (1983), com David Bowie e música de Ryûichi Sakamoto.
terça-feira, 8 de janeiro de 2013
Consequencialismo em The Reckless Moment (1949) de Max Ophüls
- Escute - pede Martin -, já está livre de tudo, percebe? Livre de tudo!
- Mas ele é inocente! - protesta ela, referindo-se ao indivíduo que prenderam por engano.
- Bem, ele é inocente disto, mas é culpado de mil outras coisas, por isso não importa. Dê por onde der, não importa. Você tem a sua família - diz ele a Lucia -, tem de pensar naquilo que é bom para todos; esqueça-se dele. Seria inútil sacrificar a sua família por um homem que não é bom, que merece o que lhe está a acontecer e mais ainda; se o castigarem por isto, será a única coisa útil que fez em toda a sua vida. Não pretendo pensar na justiça ou injustiça do caso. Não se trata da classe de pessoas que você conhece, mas sim da classe de pessoas que eu conheço. E é assim que tem de ser. Aquilo que tem de fazer, Lucia, é o mais acertado.
Embora sem o saber, e nem precisa de sabê-lo, Martin está a adoptar em tudo isto (e convidando Lucia a fazer a mesma coisa) uma atitude consequecialista na hora de julgar um acto: escondemos a verdade, propõe ele a Lucia, porque dizer a verdade nestas circunstâncias seria o mesmo que arruinar a sua maravilhosa vida familiar. Se, pelo contrário, nos dá para adoptar uma atitude mais ortodoxa (deontológica), se pretendemos julgar as nossas acções pela sua conformidade, ou não, com as normas legais, teremos salvo da prisão uma pessoa que não o merecia e teremos condenado ao sofrimento aqueles que também não o merecem, os seus familiares. Talvez seja injusto, mas o mundo será melhor se cometermos esta injustiça; haverá mais felicidade nele do que se agirmos obedecendo a inflexíveis posições de princípio.
Trata-se, sem dúvida, de uma interessante (e difícil) questão (...): decidir se se deve ajuizar uma conduta tendo em vista exclusivamente se ela se adapta ao que está prescrito pelo dever, ou se, pelo contrário, há que avaliá-la tendo em conta os seus efeitos previsíveis e a sua repercussão sobre o bem-estar global. Neste filme, e na situação concreta nele esboçada, Martin está convencido de que o melhor é guiar-se por este último critério, e consegue convencer Lucia do seu ponto de vista. Algo assim teria feito Kant dar voltas na sepultura; mas também pode acontecer que a teoria moral kantiana não esteja de acordo com todas as nossas situações morais acerca daquilo que se deve fazer em ocasiões específicas, muito ricamente matizadas por pormenores que não são assim tão irrelevantes - como Kant pretende fazer-nos crer - para a produção de um juízo moral competente.
(texto de Juan Antonio Rivera, O que Sócrates diria a Woody Allen, Tenacitas, Coimbra, 2006)
The Reckless Moment (1949), de Max Ophüls, com Joan Bennet e James Mason.
sexta-feira, 4 de janeiro de 2013
Arbeit Macht Frei?
Arbeit Macht Frei?
Num ou noutro texto
publicado por aí, mais se falarmos de internet, vai circulando a ideia do
inevitável fim da sociedade do trabalho. Afinal, o trabalho não constituí a
satisfação de uma necessidade, mas apenas o meio para satisfazer outras
necessidades, disse-o Marx, o Karl, mas bem podia ter sido o Groucho. O
trabalho é uma maçada e isso do “sou
feliz é a trabalhar” coisa de quem pouco mais fez, dita da boca para fora
para evitar que nos tomem por mandriões. Tirando as excepções em que o trabalho
se vai confundindo com o prazer, ninguém gosta de trabalhar. Devia ser um
hobby.
Até meados dos anos sessenta do século passado, podemos dizer que o trabalho libertava da fome, do frio e, em alguns casos, de uma condição social desfavorável. Hoje o trabalho já não liberta do que quer que seja e nunca mais chegará para todos. Tal como previsto em inúmeras obras de ficção científica mais ou menos distópica, a produção de riqueza já descolou da força de trabalho humano. Com as novas tecnologias, a sociedade assente no trabalho atinge o seu limite histórico. Todavia, mudou a realidade, mas permanecemos, à esquerda e à direita do espectro político, manietados pelo dogma do trabalho e do homem reduzido a animal laborans ou objecto mercantil. O trabalho foi-se esvaziando de conteúdo e o orgulho do trabalhador posto de lado, restando a simples obrigação, princípio abstracto que se impõe de forma coerciva sobre toda uma sociedade. Estes são os tempos do trabalho pelo trabalho e do homem degradado ao estatuto de escravo dócil, a um instante de ser substituído pela máquina. Todo aquele que não consegue vender a sua força de trabalho e encontrar o seu lugar na engrenagem cai fora do contrato social e torna-se dispensável, lixo social.
Até meados dos anos sessenta do século passado, podemos dizer que o trabalho libertava da fome, do frio e, em alguns casos, de uma condição social desfavorável. Hoje o trabalho já não liberta do que quer que seja e nunca mais chegará para todos. Tal como previsto em inúmeras obras de ficção científica mais ou menos distópica, a produção de riqueza já descolou da força de trabalho humano. Com as novas tecnologias, a sociedade assente no trabalho atinge o seu limite histórico. Todavia, mudou a realidade, mas permanecemos, à esquerda e à direita do espectro político, manietados pelo dogma do trabalho e do homem reduzido a animal laborans ou objecto mercantil. O trabalho foi-se esvaziando de conteúdo e o orgulho do trabalhador posto de lado, restando a simples obrigação, princípio abstracto que se impõe de forma coerciva sobre toda uma sociedade. Estes são os tempos do trabalho pelo trabalho e do homem degradado ao estatuto de escravo dócil, a um instante de ser substituído pela máquina. Todo aquele que não consegue vender a sua força de trabalho e encontrar o seu lugar na engrenagem cai fora do contrato social e torna-se dispensável, lixo social.
O trabalho já não
liberta do que quer que seja, deixou de ser o meio que nos permite usufruir de
nós ou do tempo para nós com autonomia. Com o advento da indústria, o trabalho
assumiu uma importância desproporcionada sobre tudo o resto, converteu-se na
essência negativa do homem e estabeleceu um novo apartheid social, a tal ponto que é melhor ter um trabalho qualquer
do que nenhum, por mais sujo, escravizante ou absurdo. Entretanto, vão os
governos, em modo decorativo, simulando um trabalho em vias de extinção,
anunciando programas de formação e ocupação supérfluos e redundantes ou chegando
ao ponto de cortar no subsídio de desemprego e no apoio social como incentivo
para o regresso a um trabalho que já não existe. Perpetua-se o mantra que nos
incorporaram como se da nossa natureza se tratasse, repetido à exaustão, é
melhor ter um trabalho qualquer, é melhor ter um trabalho qualquer, com
qualquer salário, em qualquer lugar, sem qualquer prazer, sem qualquer
utilidade, a qualquer custo. Passando por cima de todos num sistema
auto-repressivo que divide, nos divide, de um lado os que ainda têm trabalho e
do outro os parasitas.“A civilização não
tem lugar para os ociosos”, concretiza-se a profecia fordiana e assume-se uma sociedade de açaimados pelo trabalho ou pela
caridade.
Estará a única saída
na libertação social da dependência do trabalho e na alteração do modo como se concebem
as sociedades, deixando de tomar de forma exclusiva o trabalho como princípio
organizador da vida individual e colectiva, deixando de impor ao sujeito a
responsabilidade de procurar algo que já não existe, descartando a lógica de
qualquer trabalho a qualquer custo e substituindo-o por um “rendimento mínimo de prosperidade e
dignidade”. Não se trata de acabar com o trabalho, apenas de aceitar que
não mais existirá para todos, permitindo àqueles que o desejam e mereçam ser
por ele recompensados, mas providenciando a todos os demais a possibilidade de viver
livres da obsessão pelo trabalho, banindo de vez o termo “desemprego” e tudo o
que de negativo lhe vem acoplado.
Ideia disparatada ou
ingénua, dirão quase de imediato os interessados em perpetuar um sistema que
arrasta milhões num estado de semi-vida que corrói toda uma convivência democrática
que levou demasiado tempo a construir. Os mesmos que até aqui nos trouxeram e que
persistem agora na receita do inevitável, tão útil como uma aspirina para um
tiro na cabeça.
Não é uma ideia
original, que cada vez as há menos, mas vai alastrando, exigindo uma
reformulação total da segurança social e da forma de pensar, uma mudança para
um paradigma que assente na reflexão e no sentido crítico, algo cada vez mais remoto,
quando, a cada dia, nos é imposta uma definitiva visão do mundo na qual somos
escravos do trabalho ou estamos desempregados. Só assim será possível inventar
um mundo para além da ditadura do trabalho e do dinheiro, um mundo sem a
castradora separação entre o sujeito-económico e o sujeito-cidadão, causa
principal do conformismo político. Porque uma democracia forte deve firmar-se
sobre a preocupação que pressupõe ver o outro como ser humano e não como
objecto (Martha Nussbaum), investindo num modelo social que promova a formação
integral do ser humano. Sem deixar ninguém de fora. Sem deixar ninguém para
trás.
Ou aceitamos o
retrocesso a uma qualquer forma de vida semelhante à feudal, ou arriscamos algo
novo, na tentativa de restaurar a dignidade do homem e uma vida com sentido.
Miguel
Cardoso
Subscrever:
Mensagens (Atom)