Um outro olhar sobre o mundo

Um outro olhar sobre o mundo

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Fernando Lopes (28 de Dezembro de 1935 - 2 de Maio de 2012)

Entre outros... Deixa-nos Belarmino.


Belarmino (Portugal, 1964)

Realização: Fernando Lopes
Diálogos: Fernando Lopes, Baptista-Bastos, Manuel Ruas
Actores: Júlia Buísel, Belarmino Gragoso, Albano Martins, Tony Alonso
Fotografia: Augusto Cabrita

Sinopse:
Belarmino aborda o declínio da existência, entre memórias e nostalgia, de um antigo campeão de boxe, Belarmino Fragoso - um homem de origem humilde surpreendido pelo sucesso, até ao resvalar da sua vida marginária e popular, pela cidade em que viveu: Lisboa

"Belarmino, nome real de um boxeur em decadência que interpreta o seu próprio papel, é sobretudo um belo filme confessional, perseguição de uma voz sempre off (voz do entrevistador) ao rosto quase sempre presente do protagonista. Implacável campo-sem-contra-campo, o filme é uma habilíssima articulação entre o flash-back e o frente-a-frente. Se Belarmino tivesse vivido noutro país, talvez fosse um grande campeão. Esta afirmação, feita no filme, faz passar Belarmino do fait-divers para a tragédia. (...) É um filme construído sobre o combate de um personagem com um décor, essa portentosa Lisboa do filme que só pode levá-lo ao K.O. em qualquer round."

(João Bénard da Costa, in Histórias do Cinema, Sínteses da Cultura Portuguesa, Europália 91, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa)


"No início dos anos 60, quando o movimento do Cinema Novo português tomava forma e iniciativa, muitas eram as vias delineadas pela geração de cineastas em ascensão. Apenas um ousou não fazer ficção e abordar o cinema-directo: Fernando Lopes com Belarmino (...). Traçando (via entrevista conduzida pelo jornalista Baptista-Bastos) o perfil do pugilista Belarmino Fragoso, é de Lisboa-cidade e da respiração acossada do País que este filme fala. Imagens secas, palavras rudes, ao diabo a verdade-mentira desse homem sozinho. A ambiência empapada e cinzenta dos lisboetas anos 60 está lá, engravatada e dispersa, anónima num destino emigrante para levar porrada. Grades e música de jazz, em estilhaços gritados. Nem sonhos, nem ilusões, cansaço. E uma montagem que quer levantar voo e a realidade não deixa. Nem condoído nem exaltante: Belarmino é apenas um murro no estômago."
Jorge Leitão Ramos, in Dicionário do Cinema Português 1962-1988, ed. Caminho, Lisboa, 1989

"A espontaneidade, o sentido visual, a descoberta da realidade escondida pela câmara de Augusto Cabrita, um grande fotógrafo, colega do realizador na RTP, são o melhor do filme, já que a entrevista é sobretudo um documento sociológico, embora Fernando Lopes (e o seu montador, Manuel Ruas, um homem que vinha dos cineclubes) procurasse harmonizar as duas realidades audiovisuais: Berlarmino a falar e a cidade vista pelos seus olhos. Também a música pertencia a novos elementos e trazia o jazz, creio que pela primeira vez, para música de fundo de um filme português, com assinatura de Manuel Jorge Veloso e Justiniano Canelhas.

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