Um outro olhar sobre o mundo

Um outro olhar sobre o mundo

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Inconformismo

Por Ferreira Fernandes

UMA FOTO de 1936 marcou a semana. Um operário de um estaleiro de Hamburgo, no meio de uma multidão que fazia saudação nazi, é o único de braços cruzados. August Landmesser, de 26 anos, tinha boas razões para não ser nazi, era casado com uma judia alemã, mas também tinha prudentes razões para não chamar a atenção com gesto tão rebelde. E, no entanto, fê-lo. Por causa dos braços cruzados num mar contrário, Landmesser foi preso, metido durante a II Guerra Mundial num batalhão penal e desapareceu na frente russa. Quando, agora, um blogue recuperou a foto, a admiração que temos pelos gestos solitários, corajosos e calmos tornou a imagem viral e passeou-a pelo mundo fora. Por cá, também, mas com uma lacuna jornalística (julgo).
As notícias longínquas têm interesse em ser acompanhadas por similares notícias locais, se as houver, para melhor as explicarmos. Por esquecimento, ignorância ou tão-só esse vício dos jornais que dá por sabido o que já foi publicado ("já demos..."), não vi, esta semana, a foto dos irmãos portugueses de August Landmesser. Em 30 de janeiro de 1938, no Portugal-Espanha, no estádio das Salésias, a seleção portuguesa perfilou-se ao hino nacional e estendeu o braço em saudação fascista, como era norma. Mas três jogadores - Artur Quaresma, José Simões e Mariano Amaro, todos do Belenenses - não fizeram o gesto fascista. Há foto.
Resultado final do jogo: lembro-me do nome dos três, dos outros oito não.
(«DN» de 12 Fev 12 e sorumbatico.blogspot.com)

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