Pode ser só o desejo de tocar um outro tempo e respirar do berço desta civilização que é a minha. Ganhar alento na Antiga Grécia. Tomar balanço e percorrer a Ágora. Trazer o pensamento para a rua. Demorar-me nele. Sem medos, donos, arreios ou dogmas. Sem uma agenda explícita ou escondida. Sem inimigos declarados ou amigos a proteger. Sem tomadas de posição colectivas ou histerismos de momento. Só pensamento livre e crítico. Reflexão e opinião. Usar a razão e exercer a cidadania. O que me faz humano. Libertar a palavra e dar-lhe forma. Voltar por instantes à Antiga Grécia, trazê-la para Portugal, para junto de minha casa, aqui e agora, onde tudo começa e acaba. Onde eu sou. Sair do conforto do café e da televisão, da protecção do virtual, dar a cara por uma ideia e arriscar levar com outra bem no meio das trombas, dar o braço a torcer ou nem por isso, descobrir outra forma de ver o mundo. Inconformar-me com o fato que me vestem. Não comer e não calar. Direito, mas também dever. Ousar pensar para conseguir fazer. SER MAIOR. Esclarecido. Para tornar a vida digna. Para contar aos filhos. Não é preciso saber exactamente para onde vou. Apenas mudar o ponto de vista, o meu, e é todo o mundo que muda. Ou então permanecer como observador passivo, que é uma outra forma de já estar morto.
É disto que se trata, no Fundão, no final de Março, ser mais, ser melhor, basta aparecer.