Um outro olhar sobre o mundo

Um outro olhar sobre o mundo

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Valores

A experiência valorativa faz parte do nosso quotidiano; facilmente abandonamos a neutralidade de uma frase como "Beethoven compôs 9 sinfonias" para a apreciação "A 9ª é a mais bela"; ou passamos da indiferença que supõe a constatação de que "Em Lurdes há um santuário" para a declaração "Devemos estar nele com respeito". Beleza e respeito -- estamos no domínio dos valores. O que (não) é um valor? Como podemos reconhecer um valor?
  1. Um valor não é um facto. Um facto é uma realidade constatável ou um acontecimento susceptível de ser atestado por várias pessoas: coisas, pessoas, acontecimentos, instituições... Formulamos um juízo de facto quando descrevemos aquilo que vemos, ouvimos, sabemos: por ex., "Garfield é um gato". Mas, ao afirmar "O meu vizinho é simpático", formulei um juízo de valor.
  2. "Reconhecer um certo aspecto das coisas como um valor consiste em tê-lo em conta na tomada de decisões ou, por outras palavras, em estar inclinado a usá-lo como um elemento a ter em consideração na escolha e na orientação que damos a nós próprios e aos outros" (Simon Blackburn - Dicionário de Filosofia). Os valores dependem das relações que as coisas a que são atribuídos têm com a pessoa que os atribui: o pôr do sol é belo porque me agrada.
  3. Portanto, um valor não é uma qualidade que pareça estar no objecto como a cor está na tela: não se olha a beleza de uma paisagem -- olha-se a paisagem e é a maneira de olhar que revela a beleza (Ruyer). Ou seja: os valores não são qualidades sensíveis das coisas (como a cor, por ex.) -- embora as propriedades valiosas estejam baseadas nas qualidades das coisas. Os valores também não são objectos (relógios, livros...) -- embora atribuamos valor às coisas. Os valores não são ideias (como, por ex., os objectos matemáticos: a recta, o triângulo...).
  4. Os valores são bipolares (contrapõem-se num pólo positivo e num pólo negativo: verdade/falsidade; justiça/injustiça...) e hierarquizáveis (subordinam-se uns aos outros: uns valem mais do que outros. A justiça, por ex., vale mais do que a elegância).

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