Um outro olhar sobre o mundo

Um outro olhar sobre o mundo

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Colóquio: Como devemos agir?


Segunda-feira - dia 2 de Maio
17:30h.
Escola Secundária c/3º Ciclo do Fundão (biblioteca)

Colóquio
COMO DEVEMOS AGIR? - KANT & NIETZSCHE

Professores convidados: Ana Paula Santos e David Santos (Universidade da Beira Interior)

Entrada livre

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Algumas notas sobre estética

(escultura de Gunther Von Hagens)

Estética. A Estética é uma disciplina filosófica que procura definir o Belo ou a Beleza em geral e as suas formas de representação nas artes e na natureza, assim como os seus efeitos sobre os receptores.

A Estética como disciplina filosófica. As primeiras manifestações artísticas são provavelmente tão antigas como o próprio homem, mas o conceito de estética é relativamente recente. A palavra "estética" só foi introduzida em 1750 no vocabulário filosófico pelo alemão Alexander Gottlieb Baumgartem quando publicou uma obra (Estética) onde procurava analisar a formação do gosto. A reflexão sistemática na filosofia sobre a beleza e a arte é, todavia, muito mais antiga e remonta pelo menos à antiguidade clássica. Muitos autores preferem o termo filosofia da arte, entendendo-o como uma reflexão centrada nas obras de arte e nas suas relações com o criador que as produziu. Esta denominação pretende excluir, por exemplo, o belo natural. 

Filosofia da Arte. Esta disciplina filosófica tem um sentido muito mais restritivo que a estética, pois só se aplica às chamadas "belas artes". Trata apenas das obras criadas pelos seres humanos. Entre outras aborda as seguintes questões: Em que consiste uma obra de arte ? Que se cria numa obra de arte ? Porquê e quando se considera bela uma obra artística? É a arte uma expressão de sentimentos ? A arte imita a natureza ?  É subjectiva ou objectiva a percepção estética? Existe uma definição geral de arte ? Que critérios nos permitem afirmar a qualidade artística de uma obra de arte ? Qual o valor da própria arte? 

Atitude Estética . As predisposições que o homem revela para produzir, mas também para valorizar em termos emotivos os objectos e as situações, constitui o que designamos por atitude estética. Esta atitude é pois uma das condições necessárias para pudermos ter uma experiência estética, caso contrário os nossos sentidos estarão bloqueados. Para que exista então uma experiência estética é necessário: Contemplar as coisas de forma desinteressada e sem preconceitos. O que implica vê-las como são em si mesmas, com distanciamento e desapego. Os nossos sentidos devem estar libertos e despertos para o diferente ou outras dimensões não familiares.

 Sensibilidade Estética. O modo como vivemos as diversas experiências estéticas depende da nossa sensibilidade, a qual é influenciada pela preparação que temos para poder usufruir uma dada experiência. Muitas formas de arte, como certas expressões da arte contemporânea  requerem uma iniciação prévia, nomeadamente para pudermos entender a linguagem usada pelos artistas. 

Juízos Estéticos. Um juízo é a afirmação ou a negação de uma dada relação sobre algo (ex. O mar é belo; o lixo é feio). Um juízo estético é a apreciação ou valorização que fazemos sobre algo e que se traduz em afirmações como "gosto" ou "não gosto". Nem sempre estes juízos são baseados em critérios explícitos que permitam fundamentar as nossas afirmações. Em termos gerais, todos os juízos estéticos baseiam-se nos seguintes pressupostos: 

a) Objectividade estética: Pressuposto de que a Beleza é eterna, sendo independente dos juízos individuais (subjectivos). A beleza não está nas nossas apreciações, mas constitui uma propriedade dos próprios objectos estéticos. Que propriedade ou propriedades são estas que tornam os objectos belos ? Apesar de todas as tentativas para definir a Belo ou a Beleza, nunca se chegou a nenhum consenso. Alguns autores procuram contornar a situação, afirmando que para cada género artístico, ao longo dos tempos, têm vindo a ser apurados certos "cânones" específicos que nos permitem ajuizar do valor estéticos das diversas obras. 

b) Subjectividade estética Pressuposto de que o valor estético atribuido a um objecto não pode ser separado do contexto sócio-cultural a que está ligado. O belo é o que eu gosto ou aquilo que me agrada. A beleza funda-se assim numa relação subjectiva, sensorial, entre sujeito e o objecto. A arte ou o valor de cada obra é sempre vista em função de um dado contexto. A história tem-nos mostrado que nem sempre existe um acordo entre os méritos de uma obra de arte e os juízos sobre a mesma produzidos na época em que foi criada. Muitos artistas que foram considerados geniais no seu tempo são hoje considerados artistas menores, enquanto que outros que passaram despercebidos são agora valorizados. 

Atitude estética - John Hospers

A atitude estética

John Hospers

1. Atitudes
A atitude estética, ou a «forma estética de contemplar o mundo», é geralmente contraposta à atitude prática, na qual só interessa a utilidade do objecto em questão. O verdadeiro negociante de terrenos que contempla uma paisagem só a pensar no possível valor monetário do que vê não está a contemplar esteticamente a paisagem. Para a contemplar dessa maneira teria de «a observar por observar», sem qualquer outra intenção — teria de saborear a experiência de observar a própria paisagem, tomando atenção aos seus detalhes, em vez de utilizar o objecto observado como um meio para atingir um certo fim.

A atitude estética distingue-se também da atitude cognitiva. Os estudantes familiarizados com a história da arquitectura são capazes de identificar rapidamente um edifício ou umas ruínas no que diz respeito à sua época de construção e lugar de origem, ou ao seu estilo e a outros aspectos visuais. Contemplam o edifício sobretudo para aumentar os seus conhecimentos, e não para enriquecer a sua experiência perceptiva. Este tipo de habilidade pode ser útil e importante, mas não está necessariamente correlacionado com a capacidade de desfrutar a própria experiência da contemplação do edifício. A capacidade analítica pode eventualmente melhorar a experiência estética, mas pode também inibi-la. Quem se interessa por arte devido a um objectivo profissional ou técnico está particularmente sujeito a afastar-se da contemplação estética. Isto conduz-nos directamente a outra distinção.

A forma estética de observar é também diferente da forma personalizada de o fazer, na qual o observador, em vez de contemplar o objecto estético para captar o que este lhe oferece, considera antes a relação desse objecto consigo próprio. Quem não dá atenção a uma obra musical, usando-a apenas como estímulo para uma fantasia pessoal, acaba por não estar a ouvir esteticamente, mesmo que pareça o contrário.

Disto segue-se que muitos tipos de respostas aos objectos, incluindo às obras de arte, ficam à margem do campo da estética. O orgulho de possuir uma obra de arte, por exemplo, pode interferir na resposta estética. A pessoa que reage com entusiasmo perante os seus convidados ao ouvir uma sinfonia no seu próprio equipamento estereofónico, mas que não reage à interpretação da mesma sinfonia quando a ouve através de um equipamento idêntico na casa do seu vizinho, não está a ter uma resposta estética. O antiquário ou o director de museu — que ao escolher uma obra de arte tem que ter presentes o seu valor histórico, fama e época — pode sentir-se parcialmente influenciado pela apreciação do valor estético, mas a sua atenção desvia-se necessariamente para factores não estéticos. Do mesmo modo, se uma pessoa aprecia uma peça de teatro ou um romance porque espera encontrar informações relativas à época e ao lugar em que a obra foi escrita, está a substituir o interesse pela experiência estética pelo interesse em adquirir conhecimentos. Se uma pessoa aprecia favoravelmente uma determinada obra de arte por esta ser moralmente edificante ou por «defender uma causa justa», está a confundir a atitude moral com a estética, o que também ocorre se a condenar por motivos morais e não conseguir separar essa censura da apreciação estética.

2. Relações internas
O termo «desinteressado» usa-se muito para descrever a atitude estética. O desinteresse é uma qualidade do bom juiz, que se manifesta quando este é imparcial. O juiz pode estar pessoalmente envolvido num certo caso, no sentido em que estuda profundamente a sua solução, mas ao julgar o caso não pode estar pessoalmente envolvido, no sentido em que deve evitar que os seus sentimentos ou simpatias pessoais o influenciem ou afectem de qualquer forma. A imparcialidade em matérias morais e jurídicas certamente caracteriza o chamado «ponto de vista moral», mas não é nada claro de que forma temos que nos mostrar desinteressados (ou seja, imparciais) ao contemplar um quadro ou escutar um concerto. Teremos de ser imparciais como num conflito entre duas partes litigantes? «Julgar imparcialmente» faz sentido, mas o que significa observar ou escutar  imparcialmente? «Imparcial» é um termo relacionado com situações em que existe um conflito entre partes litigantes, mas não parece ser um termo útil quando tentamos descrever a forma estética de contemplar as coisas.

Um modo menos confuso de descrever a experiência estética é fazê-lo em termos de relações internas versus externas. Quando contemplamos esteticamente uma obra de arte ou a natureza, fixamo-nos apenas nas relações internas, ou seja, no objecto estético e nas suas propriedades, e não na sua relação com nós próprios, nem sequer na sua relação com o artista que o criou ou com o nosso conhecimento da cultura em que surgiu. A maior parte das obras de arte são muito complexas e exigem toda a nossa atenção. O estado estético pressupõe uma concentração intensa e completa. É preciso ter uma consciência perceptiva intensa, e tanto o objecto estético como as suas diversas relações internas têm de constituir o único foco da nossa atenção.
(...)
John Hospers
Tradução e adaptação de Pedro Galvão.
Texto retirado de Estetica: Historia y Fundamentos, de John Hospers, Cap. 1 (selecção).

sábado, 23 de abril de 2011