Novo artigo sobre educação de Guilherme Valente saído na segunda-feira no jornal "Público":
1. A educação finlandesa é um exemplo de exigência, de combate ao facilitismo, de responsabilidade, de anti-eduquês, afinal. Um exemplo do que o "milagre" da educação pode realizar.
Essa exigência na educação e, designadamente, o rigor, sem complacência, na aplicação e no uso dos recursos materiais disponíveis, transformaram, em poucos anos, a Finlândia.
Podemos fazer o mesmo em Portugal.
2. Numa entrevista ao jornal Público (1/4/11), Jouni Valijarvi, director do Instituto Finlandês para a Investigação em Educação, como que ilustrando o que tenho escrito, referiu-se às condições que explicam o êxito do sistema educativo finlandês:
"É mais eficaz chumbar um aluno na primária do que depois, porque é quando estão a ser dadas as bases".
E eu acrescento: e é um sinal a dizer aos alunos que vêm para a escola para trabalhar e aprender. Um sinal, também para os professores e os pais, que marcará a atitude e o percurso escolar da criança.
Entre nós passa-se o oposto: os alunos apercebem-se e interiorizam rapidamente que pouco lhes é realmente exigido. Pelo ambiente que encontram na escola, mas mesmo pelo que explicitamente é disseminado: "a sala de aula é o prolongamento do recreio", não é esta uma das ideias veículadas nas escolas de formação de professores do eduquês? O que podem contra isto mesmo docentes, mesmo os mais lúcidos e empenhados?
O que acontece é que, ao invés dos animais, que seleccionam, afinam, na longa duração mecanismos naturais de adaptação ao meio ambiente, o ser humano dispõe de um mecanismo de adaptação rápido, cultural. Assim, quando entra na escola, a criança, mesmo a que chega mais motivada e responsável, apercebe-se, muito rapidamente, ter de se adaptar a essa nova realidade: permissiva, desresponsabilizadora, facilitista, sem desafios, imbecilizante. Adaptar-se para sobreviver.
Poucos resistem a esse clima envolvente. Só os mais dotados ou com pais que acompanham com exigência o seu percurso escolar. Por isso, as vitimas da escola do eduquês são sobretudo os mais desfavorecidos.
Segundo Jouni Valijarvi, o ensino no seu país não está mais centrado no bem-estar da criança do que nos resultados académicos. Embora, naturalmente, haja preocupação com o bem-estar da criança, a razão de ser da escola "reside na área cognitiva", "visando atingir níveis exigentes no campo da escrita, da leitura e da matemática". Matemática "também já importante na pré-primária".
Na Finlândia, "(...) os professores estão motivados e bem preparados e têm autonomia" para trabalharem com eficácia. E o que é um professor bom para os alunos e para o sistema? O professor é bom "quando domina a matéria que deve ensinar".
Algo de óbvio, que só a cegueira ideológica não quer ver. Em vez de preparar os professores no domínio das matérias relevantes a leccionar, as escolas de formação do eduquês encharcam-nos corm "pedagogias" confirmadamente insensatas e nocivas. Dar voz aos docentes que nesses cursos e escolas discordam dessa orientação cujo jugo lhes é imposto é um imperativo de inteligência, progresso e liberdade.
Na Finlândia, o professor acompanha a criança durante seis anos! Sem o absurdo do excesso de "disciplinas" que impede os alunos de estudarem e aprenderem o essencial, aquilo que é culturalmente enriquecedor e socialmente útil, de adquirirem, antes de mais, o domínio dos instrumentos, a informação, o treino de trabalho, que lhes permitirão aprender tudo e cultivar o espírito crítico.
Na Finlândia, além de dominar os programas para ensinar bem, o professor tem ainda tempo "para se interessar pelos alunos e para estar disposto a ter com eles conversas que lhes digam algo", a fim de "os ajudar na escolha do caminho que vão seguir, discutindo o porquê das suas escolhas". Professores libertos das inutilidades e da burocracia com que nas nossas escolas, inundadas por labirintica legislação, se condiciona a função inestimável que deve ser a deles.
"Turmas pequenas, 21 alunos por turma na primária, em media. No secundário, 19", indica Jouni Valijarvi. Não menos, reservando recursos para criar "sempre mais apoios para os alunos que deles necessitam, de acordo com o contexto de cada escola".(Note-se que há escolas na Finlândia com 15% de alunos imigrantes.)
Problema que no nosso país o ME, servindo, afinal, o interesse próprio da nomenclatura que o tem comandado, sempre dificultou que as escolas enfrentassem, não deixando que cada uma avalie e adopte autonomamente as necessidades próprias e respectivas soluções.
Uma vantagem decisiva das escolas privadas.
A Finlândia é um dos países onde os alunos passam menos tempo na escola.
"Quando se está na escola, está-se concentrado na escola. Quando se vai fazer outra coisa são tempos perfeitamente separados" , diz Jouni Valijarvi.
3. Quando estive no Conselho Nacional de Educação, propus, na comissão que integrava, um projecto que mobilizasse a escola e a sociedade para um objectivo tão simples quanto essencial: que nenhuma crianca terminasse o ensino básico sem dominar a leitura, a escrita e as operações matemáticas elementares.
Resposta dos eduqueses que dominam aquele indescritível Conselho: "Queremos muito mais, queremos fazer cidadãos" (!?).
Trinta por cento das crianças saem do ensino básico sem saber ler, nem escrever, nem contar. Cidadãos... analfabetos?
Guilherme Valente
1. A educação finlandesa é um exemplo de exigência, de combate ao facilitismo, de responsabilidade, de anti-eduquês, afinal. Um exemplo do que o "milagre" da educação pode realizar.
Essa exigência na educação e, designadamente, o rigor, sem complacência, na aplicação e no uso dos recursos materiais disponíveis, transformaram, em poucos anos, a Finlândia.
Podemos fazer o mesmo em Portugal.
2. Numa entrevista ao jornal Público (1/4/11), Jouni Valijarvi, director do Instituto Finlandês para a Investigação em Educação, como que ilustrando o que tenho escrito, referiu-se às condições que explicam o êxito do sistema educativo finlandês:
"É mais eficaz chumbar um aluno na primária do que depois, porque é quando estão a ser dadas as bases".
E eu acrescento: e é um sinal a dizer aos alunos que vêm para a escola para trabalhar e aprender. Um sinal, também para os professores e os pais, que marcará a atitude e o percurso escolar da criança.
Entre nós passa-se o oposto: os alunos apercebem-se e interiorizam rapidamente que pouco lhes é realmente exigido. Pelo ambiente que encontram na escola, mas mesmo pelo que explicitamente é disseminado: "a sala de aula é o prolongamento do recreio", não é esta uma das ideias veículadas nas escolas de formação de professores do eduquês? O que podem contra isto mesmo docentes, mesmo os mais lúcidos e empenhados?
O que acontece é que, ao invés dos animais, que seleccionam, afinam, na longa duração mecanismos naturais de adaptação ao meio ambiente, o ser humano dispõe de um mecanismo de adaptação rápido, cultural. Assim, quando entra na escola, a criança, mesmo a que chega mais motivada e responsável, apercebe-se, muito rapidamente, ter de se adaptar a essa nova realidade: permissiva, desresponsabilizadora, facilitista, sem desafios, imbecilizante. Adaptar-se para sobreviver.
Poucos resistem a esse clima envolvente. Só os mais dotados ou com pais que acompanham com exigência o seu percurso escolar. Por isso, as vitimas da escola do eduquês são sobretudo os mais desfavorecidos.
Segundo Jouni Valijarvi, o ensino no seu país não está mais centrado no bem-estar da criança do que nos resultados académicos. Embora, naturalmente, haja preocupação com o bem-estar da criança, a razão de ser da escola "reside na área cognitiva", "visando atingir níveis exigentes no campo da escrita, da leitura e da matemática". Matemática "também já importante na pré-primária".
Na Finlândia, "(...) os professores estão motivados e bem preparados e têm autonomia" para trabalharem com eficácia. E o que é um professor bom para os alunos e para o sistema? O professor é bom "quando domina a matéria que deve ensinar".
Algo de óbvio, que só a cegueira ideológica não quer ver. Em vez de preparar os professores no domínio das matérias relevantes a leccionar, as escolas de formação do eduquês encharcam-nos corm "pedagogias" confirmadamente insensatas e nocivas. Dar voz aos docentes que nesses cursos e escolas discordam dessa orientação cujo jugo lhes é imposto é um imperativo de inteligência, progresso e liberdade.
Na Finlândia, o professor acompanha a criança durante seis anos! Sem o absurdo do excesso de "disciplinas" que impede os alunos de estudarem e aprenderem o essencial, aquilo que é culturalmente enriquecedor e socialmente útil, de adquirirem, antes de mais, o domínio dos instrumentos, a informação, o treino de trabalho, que lhes permitirão aprender tudo e cultivar o espírito crítico.
Na Finlândia, além de dominar os programas para ensinar bem, o professor tem ainda tempo "para se interessar pelos alunos e para estar disposto a ter com eles conversas que lhes digam algo", a fim de "os ajudar na escolha do caminho que vão seguir, discutindo o porquê das suas escolhas". Professores libertos das inutilidades e da burocracia com que nas nossas escolas, inundadas por labirintica legislação, se condiciona a função inestimável que deve ser a deles.
"Turmas pequenas, 21 alunos por turma na primária, em media. No secundário, 19", indica Jouni Valijarvi. Não menos, reservando recursos para criar "sempre mais apoios para os alunos que deles necessitam, de acordo com o contexto de cada escola".(Note-se que há escolas na Finlândia com 15% de alunos imigrantes.)
Problema que no nosso país o ME, servindo, afinal, o interesse próprio da nomenclatura que o tem comandado, sempre dificultou que as escolas enfrentassem, não deixando que cada uma avalie e adopte autonomamente as necessidades próprias e respectivas soluções.
Uma vantagem decisiva das escolas privadas.
A Finlândia é um dos países onde os alunos passam menos tempo na escola.
"Quando se está na escola, está-se concentrado na escola. Quando se vai fazer outra coisa são tempos perfeitamente separados" , diz Jouni Valijarvi.
3. Quando estive no Conselho Nacional de Educação, propus, na comissão que integrava, um projecto que mobilizasse a escola e a sociedade para um objectivo tão simples quanto essencial: que nenhuma crianca terminasse o ensino básico sem dominar a leitura, a escrita e as operações matemáticas elementares.
Resposta dos eduqueses que dominam aquele indescritível Conselho: "Queremos muito mais, queremos fazer cidadãos" (!?).
Trinta por cento das crianças saem do ensino básico sem saber ler, nem escrever, nem contar. Cidadãos... analfabetos?
Guilherme Valente
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