Um outro olhar sobre o mundo

Um outro olhar sobre o mundo

sexta-feira, 27 de abril de 2012

"I Am Fishead" Are Corporate Leaders Egotistical Psychopaths ?

Por Misha Votruba e Vaclav Dejcmar

It is a well-known fact that our society is structured like a pyramid. The very few people at the top create conditions for the majority below. Who are these people? Can we blame them for the problems our society faces today? Guided by the saying “A fish rots from the head”we set out to follow that fishy odor. What we found out is that people at the top are more likely to be psychopaths than the rest of us.
Who, or what, is a psychopath? Unlike Hollywood’s stereotypical image, they are not always blood-thirsty monsters from slasher movies. Actually, that nice lady who chatted you up on the subway this morning could be one. So could your elementary school teacher, your grinning boss, or even your loving boyfriend.
The medical definition is simple: A psychopath is a person who lacks empathy and conscience, the quality which guides us when we choose between good and evil, moral or not. Most of us are conditioned to do good things. Psychopaths are not. Their impact on society is staggering, yet altogether psychopaths barely make up one percent of the population.
Through interviews with renowned psychologist Professor Philip Zimbardo, leading expert on psychopathy Professor Robert Hare, former President of Czech Republic and playwright Vaclav Havel, authors Gary Greenberg and Christopher Lane, professor Nicholas Christakis, among numerous other thinkers, we have delved into the world of psychopaths and heroes and revealed shocking implications for us and our society.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

BRAM STOKER (8 de Novembro de 1847 - 20 de Abril de 1912


Bram Stoker. Até à última gota de um filão literário
A Roménia do século XV não sorria a esposas infiéis, damas promíscuas, deslizes de súbditos ou a qualquer outro tipo de inimigo particular de Vlad, o Empalador, título granjeado com a sua predilecção para punir adversários de uma forma particularmente medonha. Dispensaremos detalhes das execuções para o caso de ainda não ter almoçado e pretender fazê-lo em breve – os requintes de malvadez incluem o arrancar de peles a vivos e outras modalidades de sofrimento prolongado em público. Os métodos pouco amistosos valeram-lhe outro cognome, herdado do pai, Draculea, ou “filho do dragão”, uma bandeira da sociedade cristã romana criada por nobres da região para defender o território da invasão dos turcos otomanos.
Dentes cravados no pescoço seriam o menor dos males para as vítimas deste príncipe de carne e osso, que espalhou o terror pela Transilvânia e inspirou Bram Stoker na criação do seu “Dracula”, uma ficção de terror com laivos góticos e caninos afiados, saída de uma pesquisa do irlandês pelo folclore europeu.
A obra, publicada pela primeira vez em 1897, esteve longe de ser sucesso instantâneo entre a sociedade de final do século XIX, apesar de as críticas lhe renderem a devida vénia. Stoker evidenciava-se ao ponto de fazer sombra a Mary Shelley e Edgar Allan Poe mas estaria longe de acreditar que o imaginário mitológico do vampiro ganharia o estatuto de lenda no século seguinte e mais além. Que as histórias de gelar o sangue se perpetuariam em romances posteriores, palcos de teatro e sagas no cinema, seja em versão paródia, em encontro tântrico entre adolescentes, ao melhor estilo “Crepúsculo”, ou impregnado de propriedades regeneradoras e de uma carga sexual superior à repulsa do conde macabro por alho, em jeito “True Blood”.
Por mais que se mudem os tempos e as adaptações, prevalece quase sempre um denominador comum na sua biografia. Saído da Idade Média, Drácula foi um conde da Transilvânia que se tornou um vampiro e feiticeiro e assolou a Inglaterra séculos depois. Stoker distinguiu-se ao sugar as superstições e o combate aos demónios legado por civilizações ancestrais, as histerias colectivas, os pavores do patriarcado vitoriano, catalisando as ansiedades de uma era, inspirado pelo sucesso da obra de 1819 de John Polidori, “The Vampyre”, que fixou o arquétipo da figura carismática.
O vampiro mais famoso da literatura é, segundo o Livro do Guiness, o monstro fictício com maior número de aparições. No cinema, estreou-se em “Nosferatu”, ainda que o expressionismo mudo de F. W. Murnau não tenha contado com a permissão dos herdeiros do escritor para a realização da obra, em 1922. Processado por violação de direitos de autor, as cópias do filme que sobreviveram à destruição imposta pela justiça permaneceram guardadas até a morte da viúva de Bram Stoker. “Nosferatu” viria a contar com uma versão actualizada de Werner Herzog, em 1979.
A primeira adaptação autorizada remonta a 1931, com Béla Lugosi dirigido por Tod Browning, no papel do nobre anfitrião de um castelo nos Montes Cárpatos que se revela um vampiro sedento de sangue humano que só pode sair à noite, sob a forma de morcego, lobo, ou envolto numa espessa névoa. Há ramificações da história para todos os gostos. Em 1943, Lon Chaney Jr. é “O Filho do Drácula”. Terence Fisher destaca “As mulheres do Drácula” em 1960.
Em 1992, Francis Ford Coppola filma “Drácula de Bram Stoker”, com Gary Oldman, Winona Rider, Keanu Reeves e Anthony Hopkins. Já em 2004, “Van Helsing” apresenta Hugh Jackman como caçador de monstros, entre eles o omnipresente Drácula.
A vida de Abraham “Bram” Stoker foi menos empolgante que a de qualquer soberano da Europa oriental, com mais ou menos tendências bizarras, exceptuando o facto de ter conquistado uma ex-pretendente de Oscar Wilde. Nasceu a 8 de Novembro de 1847, em Dublin, onde frequentou o Trinity College. Mais tarde formar-se-ia em matemática pura. Em 1866 é contratado para trabalhar no castelo de Dublin e escreve o manual “Deveres dos Amanuenses e Escrivães nas Audiências para Julgamento de Pequenas Causas e Delitos na Irlanda”. Em 1878 casa-se com Florence Balcombe e aceita a oferta de um amigo, o actor Henry Irving, para administrar o Royal Lyceum Theatre de Londres. Noel, o único filho do casal, nasce um ano depois, quando Stoker publica o seu primeiro livro, “The Duties of Clerks of Petty Sessions in Ireland”, seguindo-se a colectânea de contos “Under the Sunset”. Stoker foi crítico de teatro num jornal irlandês e engrossou a equipa literária do londrino “Daily Telegraph”.
“Drácula”, a base da ficção moderna sobre vampiros, terá começado a ser escrito em 1890, apesar de à data o romance, que lançaria sete anos mais tarde, ainda não ter título. Livros como “O Castelo da Serpente” (1981) ou os posteriores “O Caixão da Mulher-Vampiro” (1909) e “A Toca do Verme Branco” (1911), o seu derradeiro romance, denotam a inclinação para o fantástico. Stoker, que sofreu um derrame cerebral em 1905, ano da morte do amigo Irving, termina os seus dias em Londres, a 20 de Abril de 1912.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Isto é quase sobre o 25 de Abril


Andava eu pelos quinze anos e corria 1988. Frequentava o décimo ano do curso de Humanidades e era uma sala cheia de mulheres, cinco tipos para cerca de vinte raparigas. E isso era bom.
Cresci numa família em que a política sempre esteve sentada à mesa e os adjectivos não se poupavam aos seus piores intérpretes, aqueles que se iam anafando com o poder sem ligar pataco ao povo eleitor. Dia-sim-dia-sim, uma discussão com o meu pai, egocentrismo adolescente versus cristalização de ideias própria da idade adulta, luta de titãs, iludia-me eu, na realidade, apenas arrogância e euforia do puto que dava os primeiros passos no uso da razão. Mas isso sei eu agora e sabia já ele na altura. Falta-me ele e a sua argumentação irritante. Haveria de achar piada a esta coisa amorfa que vivemos, penso que podia até, veja-se bem como o mundo é composto de mudança, dar-lhe razão, pelo menos numa coisa ou outra menos importante. Nunca dei o braço a torcer. Gosto de pensar que nisso sou parecido com ele. E sinto que isso é bom.
Por essas e por outras, o 25 de Abril nunca me foi estranho, tal como o antes e o depois e o entendimento do que significava a privação de liberdade e a conquista da mesma.
O passado é uma coisa mutante, uma mescla de realidade-que-já-não-é com imaginação-criativa-e-tendenciosa-que-gostávamos-que-fosse. Ainda assim, tenho em mim a imagem, mais ou menos distinta, de uma turma de Humanidades curiosa e interventiva. Havia pessoas com ideias e convicções, não tão boas como as minhas, claro está, mas estavam lá e havia luta. E isso era bom.
Calhou-me em sorte uma professora de Filosofia demasiado jovem que volta e meia se esquecia dos rapazes numa turma que era um mar de raparigas e embarcava por conversas e gestos que, mais não fosse, nos traziam de volta da Lua à sala de aula. E isso era bom. No ano seguinte, o azar compensou-nos com um professor de formação padreca.
Sentado na última carteira, com vista para a rua incluída no pacote, a atenção era só a necessária. Ao meu lado estava o Nuno, dois anos mais velho e a mesma atenção. Já nos tínhamos cruzado, mas foi nesse ano que nos conhecemos. Na teoria, trazíamos o manual em aulas alternadas, na prática acertámos meia-dúzia de vezes. Continuo a ver o Nuno de vez em quando, não convivemos, mas ainda o tenho como amigo. Acredito que ele pensará de forma semelhante. E isso é bom. Vou enviar-lhe este texto.
Numa dessas aulas de Filosofia, sei lá a propósito de quê, disse-me o Nuno que o seu pai tinha festejado o seu nascimento em plena Serra da Gardunha, às escondidas, com três ou quatro amigos de confiança. Que fazê-lo em casa era arriscado, não era dia de alegrias e festejos, mesmo a pretexto do berro para a vida do primogénito. Alguém ouviria e chamaria as autoridades. As paredes tinham mais ouvidos que hoje. E olhos também.
O Nuno nasceu a 27 de Julho de 1970, dia da morte de António de Oliveira Salazar. Faltavam quatro longos anos para o 25 de Abril, as pessoas ainda se confundiam muito quanto aos direitos e deveres e a liberdade era uma coisa estranha. Ainda hoje as pessoas se confundem quanto a isso tudo. E isso é mau.
Sei bem que há muitas outras histórias, bem mais importantes e sérias, terríveis, sobre a ditadura e o 25 de Abril. Mas a liberdade, ou a falta dela, também se constrói de pequenas coisas com significado. Um pai e a alegria escondida do primeiro filho. Coisas para não apagar nunca. Para que não volte a ser mau.
Nuno, gosto de pensar que ando perto da verdade. Faz de conta, que nem me digas o contrário, afinal, o passado é o que queremos fazer dele.
Como o 25 de Abril.
Como o futuro.
A jogada volta a estar do nosso lado.

sábado, 7 de abril de 2012

OUVIR E FALAR - I Tertúlia pela Democracia e Cidadania (segunda abertura, ena tantas)

 Notas para a abertura da I Tertúlia pela Democracia e Cidadania... Ou colecção de frases soltas com um cheirinho de coerência.

Diz-nos Platão, dessa mesma Grécia de que tanto agora nos procuramos afastar, mas que tanto deu à Humanidade:
“Ora o maior dos castigos é ser governado por quem é pior do que nós, se não queremos governar nós mesmos.” (República, livro I, 347c)
Noutros termos, o preço a pagar pela não participação na política, é ser governado por quem é inferior.
O facto é que “esses que são piores que nós” de que nos fala Platão, esses inferiores, medíocres, aprendizes de pensamento único, sem ideias ou a memória que implique a vergonha que vai do que disseram ontem ao que fazem hoje, há muito que chegaram ao poder e a culpa é nossa.
Demitimo-nos, abdicámos das nossas responsabilidades e da nossa consciência. E pior, fizemo-lo de livre vontade.
Os gregos, de novo eles, designavam de idiótes o indivíduo que nada queria saber de política, que vivia imerso nas pequenas coisas de ordem doméstica e sentia que nada podia oferecer aos restantes, acabando manipulado por todos. Do termo grego deriva o nosso idiota actual.
Tornámo-nos invisíveis.
Acomodámo-nos e já não contamos para o que quer que seja.
Desabituámo-nos de pensar e falar, embora não pareça, dada a quantidade de chavões repetidos até à exaustão pela comunicação social e que já não estranhamos, mas que continuamos sem entender. Encolhemos os ombros e mudamos para o mesmo num outro canal televisivo. A nossa escolha reduzida a isto.
Perdemos o hábito de pensar e começa a desenvolver-se o medo de o fazer, e mais, de estar junto a quem pensa e fala, não vá contagiar-nos, não vá estar alguém de olhos postos em nós.
Optámos por permanecer quietos, fingir de mortos quando as coisas se complicam, não levantar ondas, aninhar-nos no sofá ou no cada vez mais restrito grupo de amigos de confiança (nunca deixando de espreitar por cima do ombro e medir a exacta extensão de cada palavra) ou, opção dos nossos tempos,  proteger-nos atrás do ecrã de computador (numa irreflectida ilusão de segurança).
Deixámos de ouvir, falar e, sobretudo, pensar. Um dia acordámos transformados no “analfabeto político” de Brecht.
Deixámos de OUSAR PENSAR e fazê-lo na praça pública (na Ágora), dar a cara por uma ideia sem medo de represálias ou expectativa de agradar a este ou àquele.
Uma das implicações da Democracia grega foi que os cidadãos passassem a “ver-se” uns aos outros (naÁgora, na disposição das próprias assembleias, onde cada cidadão podia tomar a palavra, no teatro, onde era sempre a decisão humana e suas implicações que estavam em causa).
Foi isto que deixou de suceder, “ver” os demais e deixar que nos “vejam”, unicamente apoiados na convicção que resulta do uso autónomo da razão.
Mas não é um trabalho fácil este de recuperar a autonomia.
Não é fácil porque exige uma modificação de mentalidade. É algo a longo prazo. Não se trata de acreditar que podemos mudar tudo aqui e agora, como que por milagre. Não pode ser esta a verdadeira atitude política.
Mas essa é a única forma de mudar uma forma de vida e de fazer política (ou não fazer) que não funciona, exceptuando para uns poucos privilegiados em regime rotativo.
Não é correcta esta substituição da pessoa pelo número.
Não é correcta esta política de trabalhar mais, para produzir mais, para consumir mais, para desperdiçar mais.
A qualquer custo.
Viver não se pode resumir a isto. Viver tem de ser mais.
Não é o fim do Governo que se pretende. Não é o fim da Democracia que se pretende. Apenas o fim de um paradigma de Governo e Democracia. Para voltar a colocar a pessoa e os valores no centro. De onde nunca deveriam ter sido arredados.
Isto cabe-nos a nós, porque um Governo (enquanto colectivo) não tem consciência.
O trabalho tem de começar em nós. A mudança tem de começar em nós. Para que o colectivo mude também.
Por isso mesmo, é fundamental que não participemos das misérias que condenamos em silêncio… E isso passa por dar pequenos passos, como este, aqui, hoje, nesta tertúlia, mas que sejam para sempre…
Que produzam efeito em nós.
Que fiquemos mais esclarecidos, maiores.
Para fazer o que é correcto, da forma correcta, pelas razões correctas. (Barry Schwartz)
Porque não nascemos para ser coagidos.
Se não vivermos de acordo com a nossa natureza, que não é esta coisa amorfa, então é como se já estivéssemos mortos.
No essencial, tudo se resume ao tipo de pessoa que queremos ser.
No essencial, é uma escolha nossa.
No essencial, é a imagem e o exemplo que queremos passar aos que se seguem, aos nossos filhos.